05/06/2012

O EXCESSO NAS FESTAS INFANTIS: SOCIEDADE DO CONSUMO

O ideal de consumo tem sido tão intenso em nossas vidas que, em alguns aspectos, pelo menos, ele supera nossa capacidade de análise crítica e até mesmo de bom senso. Vou hoje tomar um exemplo: as festas de aniversário dos filhos.

A esse respeito, uma amiga contou uma experiência bem interessante.

O filho e a nora estavam planejando uma festa grandiosa para a neta que faria sete anos e, para tanto, pediram a ajuda financeira dela. Os pais queriam contratar um bufê infantil, convidar todos os colegas de série da escola, contratar um ônibus para levar as crianças para o local da festa e, ainda por cima, comprar um saco de quinquilharias para cada convidado. Isso sem falar do aluguel de alguns brinquedos.

Essa amiga, uma pessoa sensata, madura e que tem com a família uma relação de muita intimidade, recusou-se a participar do plano. Claro que ela gerou um enorme conflito com os familiares, mas, depois de muita discussão, conseguiu que seu filho e sua nora entendessem seu ponto de vista. Resultado: os pais da garota desistiram da festa e fizeram uma reunião familiar com a presença de poucos colegas de escola da menina -que, por sinal, adorou a comemoração. E é bom ressaltar que o plano inicial dos pais estava -garantiam eles- ancorado num pedido da filha e mirava à "felicidade" dela.

Ao ouvir a história, lembrei-me de ter lido uma reportagem publicada na Folha, no início de março, justamente a respeito dessas megafestas infantis que têm ocorrido com muita freqüência. O tom da reportagem era claramente crítico ao fazer referências aos excessivos valores pagos para transformar as festas em um grande espetáculo com direito a todo tipo de recurso possível, inclusive a presença de atores famosos, produções dignas de filmes e novelas etc. Em um canal pago de TV, assisti também a um programa feito nos EUA, chamado "Party Mamas", que mostrou, no mesmo tom crítico, todo tipo de excesso cometido por mães quando organizam festas para os filhos. Mas parece que os pais não se dão conta de seus exageros.

O pior é que até as escolas se tornam cúmplices nessa história: a maioria delas aceita trabalhar como auxiliar dos pais na empreitada e colabora organizando os alunos para que compareçam ao evento na saída da escola. Isso inclui distribuir os convites em horário de aula, receber as autorizações dos pais para a saída em transporte especial, acompanhar e verificar tudo até que a caravana siga para seu destino. Muito tempo e energia de educadores profissionais gastos de forma absolutamente inadequada. E não seria justamente a escola a instituição mais apropriada para discutir com os alunos o consumo consciente e cultivar valores humanos?

Esse tipo de celebração nada tem a ver com a criança, é bom saber. Ela até pode pedir e tentar seduzir os pais porque é vítima indefesa da indústria de consumo e porque costuma saber o que quer. Mas, como sempre digo, se o que ela quer faz bem ou não a ela, são os pais que devem saber. Que tipo de bem uma festa nesses moldes pode oferecer a uma criança?

Escrito por Rosely Sayão

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